A intertextualidade em atividades de compreensão leitora no ensino de e/le Fabiana da Cunha Ferreira |
Este trabalho, baseado na Análise do discurso de cunho enunciativo, tem como objetivo aprofundar conhecimentos sobre a intertextualidade, assim como verificar a importância que é atribuída a esse conceito no ensino de E/LE. Nesse sentido, buscamos identificar marcas que permitem a professor e aluno reconhecer/compreender sentidos instituídos no texto a partir do seu diálogo com outros textos. Para tal, solicitamos a nossos informantes, professores da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro, em sua maioria, que elaborassem exercícios a partir de alguns textos e verificamos que a maior parte não considerou tal conceito. Recorremos a aportes teóricos do Círculo de Bakhtin (1979) e Maingueneau (1998), no que se refere à linguagem, e a Daher y Sant'Anna (2002), no ensino de LE. Palavras-chave: intertextualidade, análise do discurso, ensino E/LE, gênero de discurso.3 |
APRESENTAÇÃO E BASE TEÓRICA1
Acreditando que um texto está sempre relacionado a outros, e vendo nesse diálogo o fio condutor que nos permite compreender seus sentidos, pensamos que faz parte da atividade do professor formar alunos reflexivos, capazes de identificar diferentes sentidos existentes em cada texto. Uma vez que muitas vezes tais sentidos não são perceptíveis em um primeiro momento e que há uma multiplicidade de compreensões possíveis, cabe ao professor dirigir a leitura de forma crítica e consciente, fazendo das aulas espaços produtivos onde se expandam os conhecimentos lingüísticos e aumentem cada vez mais as possibilidades de interpretação dos textos. |
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Por considerar que o trabalho do professor implica uma formação contínua, verificamos a necessidade de aprofundar nossos conhecimentos em relação a questões de leitura em sala de aula. Assim, no intuito de melhorar nossa prática pedagógica, ingressamos no curso de Especialização em Língua Espanhola instrumental para leitura (Instituto de Letras/UERJ), majoritariamente formado por professores que integram a rede municipal do Rio de Janeiro. Dentre nossos interesses, estava o desejo de melhor compreender a noção de intertextualidade3, visto que: (a) identificávamos que nossos alunos do ensino médio (EM) encontravam dificuldades para estabelecer relações de sentido a partir do diálogo entre textos e (b) nos deparávamos com a necessidade de elaborar tarefas que lhes propiciassem uma melhor compreensão com relação ao tema, seguindo Daher & Sant'Anna (2002:61-62), que afirmam que cabe ao professor dirigir "la mirada del leitor-aluno hacia el texto", o que pressupõe produção de: |
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Observamos que grande parte dos professores/alunos também demonstrava dificuldades na compreensão de propostas apresentadas pelos docentes e desconhecia/desconsiderava conceitos teóricos relacionados à leitura, assim como relatava problemas relativos à elaboração de atividades práticas de compreensão leitora para suas aulas. Tal fato fez-nos refletir sobre qual relação ensino/aprendizagem esses professores desenvolvem com seus alunos - tomando por base tanto o perfil de professor construído nos PCNs e suas respectivas propostas, como nossa crença de que a escola deve garantir ao aluno |
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Sob o nosso ponto de vista, as dificuldades encontradas são resultado do desconhecimento por parte dos professores no que tange a conceitos como gênero discursivo e dialogismo esses conceitos não deveriam estar em itálico? (Bakhtin, 1979/1992), que nos parecem fundamentais para o ensino de língua, quer estrangeira, quer materna. O conceito de dialogismo bakhtiniano atravessa toda nossa reflexão. Entende o autor que as idéias, o pensamento humano, são construídos por meio de relações dialógicas, e somente quando essas relações se estabelecem, cada idéia começa a ter vida, possibilitando a geração de novas idéias. Só é autêntico o pensamento que se materializa na voz do outro e entra em contato com outros pensamentos. (Bakhtin, 1979) |
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Como é possível verificar por meio do exemplo, não há consenso entre os teóricos que se dedicam a esse estudo. Conforme Fiorín (1999), é difícil delimitar diferenças entre os conceitos de intertextualidade e interdiscursividade e, por este motivo, o autor propõe que a "intertextualidade não é um fenômeno necessário para a constituição de um texto. A interdiscursividade, ao contrário, é inerente à constituição do discurso". Considera, assim, que a intertextualidade pressupõe um processo de incorporação de um texto em outro, seja para reproduzir ou para transformar o sentido incorporado. Já a interdiscursividade refere-se ao processo de incorporação de percursos temáticos e/ou figurativos, temas e/ou figuras de um discurso em outro. Este último é inerente a qualquer discurso, sendo constitutivo do mesmo. PASSOS METODOLÓGICOS Como já foi dito, este trabalho, em termos gerais, pretendeu verificar se os professores de E/LE reconhecem a intertextualidade como uma noção relevante para a compreensão leitora e se a consideram quando elaboram suas atividades de aula. Para isso, nosso primeiro passo foi a seleção de textos em jornais e/ou livros com explícita referência a outros textos adequados ao trabalho com nossos alunos. Essa escolha considerou diferentes gêneros, porque, ainda que os textos apresentem características estáveis que facilitam o estabelecimento de relações com textos de LM, não podem ser tratados como blocos homogêneos. Não se pode, então, desprezar a dimensão heterogênea que implica a noção de gênero. |
Los estudios del Círculo de Bakhtin (1979/1992) sobre dialogismo consideran que todo enunciado instituye un YO que se dirige a un TÚ y, a la vez, un discurso que dialoga con otro discurso. Así, todos los discursos, de alguna manera conversan con otros, que se interrelacionan, siendo cada discurso siempre una respuesta a dichos anteriores y una provocación a los futuros. (Daher & Sant'Anna, 2002) - Considerando a citação acima apresentada, estabeleça uma relação entre os seguintes textos: |
1- Escolha pelo menos um deles e elabore uma atividade de compreensão leitora adequada a um de seus grupos de alunos. 2- Descreva o perfil desses alunos (nível, série, faixa etária média), aponte que elementos o levaram a escolher determinado texto e qual o objetivo da sua questão. |
Solicitamos a dois colegas que não faziam parte do curso de Especialização que lessem o instrumento para saber se havia alguma dificuldade para compreender o que era solicitado em nossa proposta. Em seguida, o questionário foi entregue aos dezoito professores, alunos da Especialização. Somente seis questionários desse total foram-nos devolvidos. Parece-nos importante ressaltar que a não devolução dos questionários de nossos colegas, em sua grande maioria docentes, caracteriza uma falta de compromisso com propostas investigativas, que pressupomos básicas como procedimento de um professor, em cujo perfil nos baseamos neste trabalho. De qualquer forma, reproduzimos, íntegra e literalmente, aqui as respostas recebidas. Nossa análise não integra todas as respostas que obtivemos nos questionários, visto que selecionamos os enunciados que nos pareceram mais relevantes, dentro do escopo de nosso trabalho.
ANÁLISE Antes de relatar a análise de nosso corpus, com base na pesquisa de Nunes e Vargens (2004), cabe relevar que a leitura dos questionários, além de ser um passo metodológico que faz parte de nosso trabalho, implica considerações que gostaríamos de comentar, uma vez que nos confrontamos não só com informantes, mas também com colegas de sala de aula. Nessa dupla relação, estão envolvidos valores e crenças, seja por nossa parte, seja por parte de nossos companheiros. Expectativas e posicionamentos frente às questões propostas, que podem refletir relações pessoais, o que pode prejudicar as análises, uma vez que “nosso imaginário resulta de interiorização de valores e crenças presentes na sociedade e acompanha nossas ações e pensamentos” (Nunes & Vargens, 2004:12).Para facilitar a compreensão da análise, optamos por apresentá-la organizada em duas partes. Assim, enfocamos a questão proposta diretamente ao professor, objetivando identificar os conceitos teóricos utilizados por ele e observar a incidência específica da intertextualidade para, num segundo momento, melhor compreender as tarefas propostas. No que se refere à primeira parte do questionário, a maioria dos informantes relacionou os vários textos presentes nas charges a alguns conceitos teóricos, ainda que não tenham se referido de forma explícita às noções de dialogismo e intertextualidade. (Como forma de identificar os informantes, utilizamos um “P” maiúsculo, seguido do número atribuído a cada professor, com a finalidade de resguardar a identidade dos participantes). |
P1 | P2 | P3 | P4 | P5 | P6 |
conhecimento prévio intertextualidade | ________ | dialogismo, gênero, enunciador,co-enunciador | _______ | _________ | intertextualidade dialogismo, conhecimento de mundo inferências |
Ressaltamos que o pequeno número de questionários com o qual trabalhamos nos impossibilita alcançar uma maior visibilidade sobre o tema, como uma possível relevância dos conteúdos discutidos no Curso de Especialização, tais como os conceitos teóricos sobre a linguagem. De qualquer forma, fizemos como hipótese que conceitos como conhecimento prévio, conhecimento de mundo, enunciador e co-enunciador estariam presentes em um grande número de respostas, porque foram trabalhados ao longo de todo o curso, inclusive na confecção de tarefas práticas. No entanto, já que mais da metade dos informantes não estabeleceu tal relação, comprovou-se a existência de dificuldades por parte dos docentes em transpor esses conceitos para seu discurso, ainda que estes tivessem sido abordados em aula. Na segunda parte da análise, quatro informantes elegeram trabalhar com ensino médio (EM) e dois com o fundamental (EF). As tiras de Mafalda foram os textos mais utilizados. Ninguém optou por trabalhar com o texto de Galeano. Acrescentamos que, ainda que a pergunta tivesse sido realizada em português, não especificamos em que idioma deveria ser respondida, ficando tal escolha a cargo de cada informante. Não houve menção ao porquê de trabalhar com grupos de EF ou EM e somente justificativas no que se refere à opção pelo gênero. |
P1 | P2 | P3 | P4 | P5 | P6 | |
Texto 1 | X | X | ||||
Texto 2 | X | X | X | X | X | X |
Texto 3 | X | X | X | X | ||
Texto 4 |
P1 – Porque me parecieron más fácil para activar el conocimiento previo de los alumnos y por presentar una dosis de humor. P2 – 1. Quadrinhos são sempre atrativos 2. Tipo de texto que propicia o trabalho de inferência. P3 – Apresentam linguagem e gênero acessíveis ao público a que as questões foram destinadas P5 – Pode despertar o interesse do aluno, já que eles adoram histórias em quadrinhos. P6 – Apresentam dialogismo, intertextualidade, abordam o mesmo tema permitem trabalha com os alunos a associação existente entre dois textos com relação a um tema relevante para essa faixa etária, que está construindo seus valores. |
Com base nas respostas, identificamos algumas crenças relacionadas especificamente a gêneros. Quando se afirma que a opção pela tira ocorre em função de que ela é “mais fácil para ativar o conhecimento prévio dos alunos e por apresentar uma dose de humor”, que facilita o trabalho com inferência, ou que é sempre mais atrativa, há uma pressuposição de que existem textos que podem dificultar a ativação do conhecimento prévio, assim como uma expectativa de que alguns textos, mais do que outros, propiciam o trabalho com a inferência. Se as tiras apresentam linguagem acessível, podemos supor que há gêneros específicos para determinados leitores. Acreditamos que essa afirmação caberia caso estivéssemos trabalhando com textos, por exemplo, da área de Medicina, de Estatística, mas não com tiras publicadas em jornais. Porém, vale ressaltar que as tiras também podem eventualmente apresentar diversas dificuldades, visto que exigem conhecimentos que muitas vezes não temos, como, por exemplo, informações sobre política, relacionadas a uma determinada comunidade; em resumo, conhecidas por um grupo específico. Além disso, se as tiras despertam o interesse dos alunos porque eles gostam delas, pode-se afirmar que, conforme nossos informantes, sempre é necessário despertar o interesse do leitor e esse interesse dependerá exclusivamente do público envolvido. Ou seja, o professor escolherá os textos segundo sua percepção daquilo que agrada aos alunos, restringindo-lhes a possibilidade de acesso a outros textos, como se não fosse sua função apresentar-lhes novas possibilidades de leitura. Pensamos que a não escolha do texto de Galeano, além dos motivos expostos pelos professores, deveu-se ao fato de que o mesmo não seja exemplo de um gênero muito utilizado e corrente, o que seguramente causou-lhes estranhamento. Ainda que a pré-leitura faça parte do trabalho de leitura em qualquer faixa etária, apenas o professor que optou pelo EM, destacou a importância de uma preparação prévia dos alunos, necessária ao trabalho com os vários textos existentes nas tiras. |
P1 Prelectura Escribir la frase “Conócete a ti mismo” en la pizarra y preguntarles a los alumnos si ya la han escuchado alguna vez y si saben a quién se atribuye. Tras hacerlo, poner los siguientes nombres y pedir que la asocien los asocien a su autor: a) Platón b) Sócrates (negrilla del informante) c) Napoleón Bonaparrte d) René Descartes Tras haber contestado, comentar un poco sobre quién fue Sócrates y Platón, y la dialéctica. Lectura del texto a continuación con los alumnos: Sócrates e o Conhece-te a ti mesmo |
Com respeito ao conhecimento enciclopédico, revela-se uma inquietude com o possível desconhecimento, por parte de dois informantes, sobre textos de autores comuns a outras gerações, uma vez que os alunos provêm de camadas sociais distintas, implicando possíveis diferenças na bagagem cultural que trazem para a sala de aula. |
P1 As charges selecionadas foram publicadas na época em que houve a votação para a decisão de vários rumos da sociedade brasileira, entre elas a da Reforma da Previdência. Logo, para entender esses textos há não só que voltar um pouquinho no tempo, mas também ativar alguns conhecimentos prévios, já que apresentam releituras, estão cheios de intertextualidade e só fazem sentido para o leitor que sabe quem foi Rodin e o que representa a Estátua da Liberdade americana. P6 Vale ressaltar, que a interpretação das charges está associada a um conhecimento de mundo dos acontecimentos políticos e dos símbolos representados. Sem o conhecimento desse contexto, possivelmente o processo de compreensão seria dificultado ou diferente do pretendido pelo autor, visto que o leitor não teria subsídios para realizar as inferências necessárias a sua interpretação e correlação. |
Em relação às propostas de trabalho solicitadas, pudemos perceber que mesmo os professores que se referiram especificamente à noção de intertextualidade em suas reflexões iniciais tiveram dificuldades em transpô-la para as atividades práticas. Somente ocorreu a aplicação da dita noção em uma das propostas. Considerando a análise dos seis questionários devolvidos, pensamos que o desconhecimento da base teórica relacionada aos conceitos propostos por este trabalho dificultou a planificação das aulas, ou seja, ainda que conheçam a teoria, os informantes têm dificuldade em apropriar-se dela. Parece-nos importante destacar, uma vez mais, que a não devolução dos questionários por parte dos demais colegas, doze professores/pesquisadores, caracteriza uma desconsideração com propostas investigativas, procedimentos básicos da atividade de um professor, em nosso ponto de vista. CONSIDERAÇÕES FINAIS Começamos nossas considerações finais salientando a importância da participação dos professores nos Cursos de Especialização oferecidos pelas universidades, no intuito de formar um professor mais consciente no que se refere às práticas pedagógicas, com condições de aliar a teoria estudada à realidade de seus alunos, em qualquer faixa etária ou nível de ensino. Um professor, sob nossa visão, é um profissional que deve saber conjugar o papel de pesquisador e educador.Ressaltamos também a importância de um estudo mais específico do conceito de intertextualidade em cursos de especialização, que oriente os docentes em sua aplicação em sala de aula, uma vez que nós professores somos os responsáveis pela adoção ou não desses aspectos teóricos no momento de planejá-las. Nossas escolhas no momento da elaboração de tarefas facilitam ou dificultam a compreensão de cada texto em qualquer nível de ensino. Compete a nós provocar a observação do aluno na direção da identificação das marcas polifônicas existentes nos textos, para que ele possa reunir e reformular as idéias presentes na infinidade de textos que atravessam cada texto. Levando em consideração as leituras realizadas sobre a teoria e a análise dos questionários, chegamos à conclusão de que solicitar informações complementares às de leitura, nas quais verifiquemos em um primeiro momento o conhecimento enciclopédico dos alunos a respeito de pontos que vão ser expostos, é fundamental para encaminhar o trabalho do professor. Isto é, ao elaborar as atividades deve-se ter em mente com antecedência quais são os conhecimentos gerais, as vivências, etc. de nossos alunos, antes de começar o trabalho com o texto propriamente dito. Além dessa sondagem anterior, sugerimos que o professor proponha tarefas com o objetivo de ampliar a bagagem cultural dos alunos, uma vez que, como já dissemos, pensamos que uma das funções desse profissional é, sem dúvida, contribuir com a formação de um aluno crítico, mais preparado para o mundo e suas leituras. Esse enriquecimento pode ocorrer por meio de qualquer atividade que consiga relacionar os conteúdos de ensino de língua estrangeira a aspectos que propiciem reflexão. Acrescentamos que é de suma importância que o professor seja receptivo às distintas leituras de cada texto, aberto a perceber a pluralidade de sentidos presentes nos mesmos, ainda que estes significados não reflitam seu próprio ponto de vista. Outrossim, é sempre necessário deixar claro para os alunos quais são os objetivos de ler um determinado texto e buscar direcionar suas expectativas em relação a cada um deles. Para isso, devemos trabalhar os elementos do gênero discursivo em questão, tratando de minimizar o desconhecimento das informações introduzidas por meio do intertexto, o que certamente acontecerá. Em resumo, conhecer as características de cada gênero facilitará a interpretação de cada texto por parte dos alunos, já que as possibilidades de sentido estarão reduzidas àquelas que façam parte de cada um. É também preciso aproveitar a transparência existente entre português e espanhol e trabalhar com material em língua materna, buscando determinar semelhanças que costumam existir entre os textos de um mesmo gênero, ainda que em idiomas distintos. Ao mesmo tempo, os alunos devem perceber que esses textos estão conectados a suas respectivas culturas, portanto, se esta muda, com certeza acontecem deslocamentos que devem ser considerados a partir da comparação entre elas. Somos da opinião que o professor deve trabalhar com distintos gêneros discursivos, uma vez que quanto mais expostos às diferentes modalidades de gêneros e formas de discurso os alunos estejam, mais fácil será identificar as características próprias a cada texto e relacionar os de língua estrangeira aos de língua materna. Nesse ponto, observa-se claramente a importância de atividades que permitam saber até que ponto os alunos podem identificar as características gerais dos distintos gêneros discursivos e também reconhecer o diálogo entre os gêneros, que costumam atribuir sentido aos textos, como, por exemplo, uma publicidade que inclua uma carta. Também é relevante incrementar esses conhecimentos com exemplos acessíveis aos alunos, vinculados a suas experiências cotidianas e incentivá-los a relacionar aspectos da gramática interna da língua materna aos de língua estrangeira. Para finalizar, depois de haver analisado os pressupostos teóricos nos quais se baseia nosso trabalho e as propostas dos professores que fazem parte de nossa investigação, consideramos imprescindível que haja um esforço coletivo entre os docentes em geral para enfatizar a importância de trabalhar com as noções de intertextualidade e gênero discursivo nas aulas de língua e, em nosso caso, de língua estrangeira. Mesmo que este trabalho seja uma reflexão inicial sobre o tema proposto – que certamente necessita de maiores discussões – retomamos nossa crença de que o professor deve buscar formar alunos críticos e reflexivos, capazes de identificar os diferentes sentidos existentes em cada discurso, uma vez que o dialogismo é o fio condutor que nos proporciona compreendê-los. Devemos estar atentos para a multiplicidade de possibilidades que possam dirigir a leitura de forma crítica e consciente, convertendo as aulas em espaços produtivos onde se expandam não somente os conhecimentos lingüísticos dos alunos, mas onde também seja a eles garantido um papel mais ativo, que lhes permita apropriar-se das informações presentes nos textos e organizá-las de forma que possam pensar sobre sua própria cultura e culturas alheias. Para isso, é fundamental a ação do professor, a quem cabe elaborar tarefas que provoquem tais reflexões. NOTAS 1. Este trabalho originou-se a partir de nossa monografia final, do curso de especialização em Língua espanhola instrumental para leitura, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, apresentada em 2004, sob a orientação da Profª Drª Maria del Carmen F. González Daher.2. Como não encontramos bibliografia suficiente que tratasse do ensino de espanhol, baseamo-nos em estudos com professores de inglês, que nos parecem refletir o ensino de E/LE. 3. Neste trabalho, nosso foco de interesse será o intertexto, compreendido como a remissão a um texto dentro de outro texto, e a intertextualidade como um conjunto de relações explícitas ou implícitas que este texto mantém com outros. “O intertexto é o conjunto dos fragmentos citados em um determinado corpus, enquanto a intertextualidade é o sistema de regras implícitas que o subentendem”. (Maingueneau, 1996/1998:88) Retomaremos estes conceitos ao longo do desenvolvimento deste item. 4. As charges e as tiras se relacionam principalmente com a imprensa e a caricatura. A charge tem uma linguagem que pode ser associada à linguagem icônica. O uso de onomatopéias, escritas com grandes letras, certos símbolos já aceitos universalmente (como uma lâmpada que se acende para explicar que o personagem teve uma idéia) têm um alcance comunicativo que outro meio de expressão dificilmente pode conseguir. Inicialmente estas historietas tinham um caráter cômico, daí o nome cómic-strip (tira cômica). REFERÊNCIAS Bakhtin, M. (1979). A estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes,1992._________. (1929) Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2004. Celani, M. & Collins, H. (2003). Formação contínua de professores em contexto presencial e à distância: respondendo aos desafios In: Reflexão e ações no ensino e aprendizagem de línguas. São Paulo: Mercado das Letras. Charaudeau, P. & Maingueneau, D. (2004) Dicionário de análise do discurso. São Paulo: Contexto. Daher, M. & Sant’anna, V. (2002) Reflexiones acerca de a noção de competencia lectora: aportes enunciativos e interculturales. In: 20 años de APEERJ - O espanhol: um idioma universal – 1981-2001. Rio de Janeiro: APEERJ., p. 54-67. Fiorin, J. Polifonia textual e discursiva. (1999) In: Dialogismo, polifonia, intertextualidade. São Paulo: EDUSP, p. 29-43. Galeano, E. (1998) Patas arriba, la escuela del mundo al revés. Madrid: Siglo XXI,. Maingueneau, D. (1987). Novas tendências em análise do discurso. Campinas: Pontes. _____. (1996). Termos chave da análise do discurso. Belo Horizonte: UFMG. _____. (1998). Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez. Nunes, T. & Vargens, D. (2003) La construcción de creencias y de valores entre estudiantes concluyentes del curso de lengua española del instituto de letras (ILE/UERJ). Rio de Janeiro. Monografia (Graduacão) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental – Língua Estrangeira. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental/MEC, 1998. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Secretaria de Educação Média e Tecnológica/MEC, 1999. AS AUTORAS Fabiana da Cunha Ferreira, Professora Comando Aeronáutica RJ – Pós-graduação Espanhol/UERJ. A professora está atuando na Aeronáutica desde 2005, além de trabalhar em cursos livres e em curso Pré-vestibular. e-mail: feibe.cunha@ig.com.br Telefone para contato: 21-8882-0383Maria Cristina Giorgi, Mestranda Lingüística – UERJ / CAPES, Pós-graduação Espanhol /UERJ. A professora atuou como substituta na UERJ e no Cap UERJ até 2004 e atualmente está terminado sua dissertação de mestrado sob a orientação da Profª Drª Maria del Carmen F. G. Daher. Trabalha como professora voluntária no PVNC – Pré-Vestibular para Negros e Carentes. e-mail: cristinagiorgi@terra.com.br Telefone para contato: 21- 9662-7885 |